Mais um tema polêmico que vale a pena explorar. As mulheres certamente serão testemunhas de muitos fatos que serão relatados ao longo desta explanação. A começar pelo desafio que é enfrentar a chegada da menopausa, com seus desmembramentos hormonais, mudanças físicas e emocionais.
Existe um tabu relacionado a menopausa, as mulheres muitas vezes não querem tocar neste assunto de forma direta. Menopausa ainda pode ser motivo de julgamentos preconceituosos, os quais são suficientes para abalar a imagem pessoal e autoestima. Por outro lado, quando a menopausa deixa de ser um tabu e passa a ser encarada como uma etapa natural e fisiológica, os conflitos internos e o sofrimento podem ser melhor atenuados e a vida continua fluindo de forma efetivamente plena.
Um dos desafios que a menopausa pode impor é a necessidade de reposição hormonal. Este tipo de terapia tem seus benefícios quando bem individualizada e, principalmente, quando conduzida por um profissional experiente e habilitado. Jamais há espaço para automedicação, pois há riscos cardiovasculares, hepáticos e oncológicos que não podem ser subestimados.
No entanto, as informações não param de borbulhar, obrigando profissionais da saúde e pessoas em geral a conhecerem resultados e apontamentos que, parcial ou totalmente, podem redirecionar as indicações da terapia de reposição hormonal, tal como motivar a revisão de alguns protocolos já estabelecidos.
Recentemente, um grande estudo dinamarquês apontou uma associação entre mulheres que usam a reposição hormonal na menopausa e o desenvolvimento da doença de Alzheimer e outros tipos de demência. Este estudo mostrou que, na categoria de alto risco, também estariam mulheres que iniciam este tipo de terapia com menos de 55 anos de idade (numa faixa etária mais jovem) e as mulheres que fazem este tratamento por um período considerado curto. O aumento de risco global para o desenvolvimento da demência foi estimado pelos pesquisadores em aproximadamente 24%.
Claramente, os resultados deste estudo dinamarquês obrigaram outros centros de pesquisa a buscar um maior aprofundamento sobre este eventual impacto da terapia de reposição e o desenvolvimento da doença de Alzheimer e outros tipos de demência. Uma nova tendência tem sido defendida, desta vez por pesquisadores norte-americanos da Universidade Weill Cornell. Estes pesquisadores focaram seus estudos nos sintomas que a menopausa pode acarretar na vida de uma mulher, como os fogachos, insônia, depressão e uma diversidade de alterações emocionais.
Os pesquisadores norte-americanos perceberam que, nas mulheres na menopausa com sintomas acentuados, foram encontradas algumas lesões no cérebro e também acúmulo de alguns tipos de proteínas, condições possivelmente mais relacionadas ao desenvolvimento das demências. Neste estudo, a quantidade e a frequência de fogachos noturnos, associados com sudorese intensa e sobressaltos no sono, são apontadas como fatores extremamente preocupantes e impactantes para o desenvolvimento das demências. Este ponto se torna de suma importância, pois , dentre tantos sintomas relacionados a menopausa, os fogachos, por serem muito frequentes, costumam ser os mais subestimados.
Para completar este cenário de tantas polêmicas, em 2021, foi realizado por um outro grupo de pesquisadores, com bastante nível científico, um estudo envolvendo 380 mil mulheres que já estavam na menopausa e tendo sintomas relacionados a esta fase. Neste grupo, o impacto global da terapia de reposição hormonal foi considerado positivo, com declínio das taxas de demência, ou seja, um posicionamento completamente oposto às observações apresentadas pelos outros estudos discutidos anteriormente.
Diante então desta divisão de posições, como fica esta questão de uma eventual associação entre reposição hormonal na menopausa e risco elevado para demência? Nada melhor do que apresentar algumas fragilidades destas pesquisas, reafirmando a necessidade de continuar investigando e manter a terapia de reposição hormonal como algo viável quando bem individualizada e com riscos bem avaliados.
São 3 fragilidades que merecem uma profunda reflexão :
Fragilidade 1
As pessoas, no caso as mulheres na menopausa, podem apresentar predisposição genética para uma série de condições e doenças. Obviamente que o peso dos fatores genéticos pode ser difícil de medir, mas jamais pode ficar de fora de qualquer análise de risco. Testes genéticos podem ser uma possível solução e tornar menos abstrata a força dos fatores hereditários.
Fragilidade 2
Como existem inúmeros tipos de reposição hormonal , cada qual com sua composição e distribuição de doses, não há segurança absoluta para afirmar qual seria ou quais seriam as formulações de maior risco . Portanto, existe uma lacuna que precisa de maior investigação e correlação.
Fragilidade 3
Não existe uma uniformidade entre as mulheres que na menopausa, quanto ao momento de procurar ajuda medicamentosa para seus sintomas. Algumas mulheres, mesmo com sintomas acentuados, buscam alternativas não medicamentosas e mais tardiamente optam por uma terapia de reposição hormonal . Existem, por outro lado, mulheres que mais precocemente iniciam a terapia hormonal, que entendem ser esta a forma mais eficaz de contenção dos sintomas tão indesejáveis. Assim sendo, fica a dúvida: as mulheres podem desenvolver demência por ficarem muito tempo expostas aos sintomas ou o uso precoce da terapia hormonal desencadeou a doença?
Enfim , como mensagens principais, tendo como base grandes estudos relacionados ao tema em questão, a terapia de reposição hormonal na menopausa deve continuar sendo utilizada e indicada com critérios individualizados e o acompanhamento de uma eventual correlação entre terapia de reposição hormonal e o surgimento de demência, continuar sendo pauta frequente dos debates até um desfecho mais conclusivo. As pesquisas podem até gerar dúvidas em um primeiro momento, mas são essenciais para escolha das melhores formulações e definição de uma análise risco sólida quanto a terapia de reposição hormonal.
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