As pessoas com diabetes tipo 2 frequentemente são aconselhadas a manter a prática regular de atividade física, cuidar rigorosamente da alimentação e observar a qualidade do sono noturno. Em geral, estas pessoas são obesas, apresentam um condicionamento físico limitado, redução da massa muscular e sinais inflamatórios.
Isto significa que não basta usar medicamentos para um adequado controle do diabetes tipo 2; o estilo de vida também exerce um papel determinante para estabilidade dos níveis de açúcar no sangue.
Uma análise de pelo menos 28 estudos explorou os efeitos de algumas práticas mentais para melhor controle do diabetes tipo 2. As práticas mentais pesquisadas foram a yoga, o qigong (um tipo de arte marcial de movimentos lentos), mindfullness (programa de treinamento focado no relaxamento mental), meditação e a técnica de imagens guiadas (visualização de imagens positivas para relaxamento mental). Estas práticas são simples de execução, não exigem uma força física significativa, são de baixo impacto e costumam estimular o relaxamento.
Estes estudos demonstraram que a prática destas atividades mentais, seja por períodos curtos ou prolongados, pode reduzir significativamente os níveis de hemoglobina glicada, um dos principais marcadores do diabetes tipo 2. Os níveis da hemoglobina glicada podem cair na ordem de 0,84%, valores semelhantes aos obtidos com a metformina, uma das mais eficazes medicações para redução dos níveis de açúcar no sangue. Vale lembrar que os níveis de hemoglobina glicada refletem os últimos 2-3 meses, ou seja, até 5,7% seria considerado normal, entre 5,7 e 6,5% seria a faixa de pré-diabetes e , acima de 6,5% seria o diabetes.
As práticas mentais podem ser úteis no controle do diabetes tipo 2 por reduzirem o estresse e estimularem o relaxamento. Segundo Ramchamdani, pesquisador do Instituto Benson-Henry, associado da Escola de Medicina de Harvard, o estímulo do relaxamento pode reduzir a liberação de hormônios de estresse, como o cortisol. Níveis estáveis de cortisol favorecem a ação da insulina e um controle glicêmico mais efetivo. Tais práticas podem ajudar no “comer consciente”, ou seja, conseguir inibir aquela sensação compulsiva por alimentos não saudáveis.
Não se pode subestimar, também, os efeitos protetores destas práticas mentais no sistema cardiovascular. Além do cortisol, existem outros dois hormônios de estresse - adrenalina e noradrenalina - que podem causar arritmias cardíacas, picos de pressão arterial, alterações digestivas , alterações mentais (ansiedade, pânico, agitação) e sudorese fria. Alguns estudos revelam que estas práticas mentais podem equilibrar os níveis destes dois hormônios no sangue. Um estudo realizado na Univerisade de Utah, nos Estados Unidos, baseado em exames de ressonância magnética, demonstrou que as pessoas adeptas destas práticas conseguem controlar melhor sua sensibilidade a dor e, consequentemente, apresentariam uma tendência menor para palpitações, sudorese e picos de pressão. Estas práticas melhoram o fluxo sanguíneo, reduzindo a pressão arterial, os níveis de colesterol e prevenindo infarto do coração e derrame cerebral.
Algumas atividades de relaxamento poderiam ser incorporadas às práticas mentais e, desta forma, potencializar o controle dos níveis de açúcar no sangue e atenuar sintomas cardiovasculares . São 4 sugestões principais:
Fazer uma meditação diária, por 10 minutos ou mais, utilizando alguns aplicativos apropriados para esta finalidade;
Frequentar aulas de yoga ou qigong em um estúdio específico ou centro comunitário;
Experimentar vídeos ou exercícios que possam induzir os estímulos de relaxamento;
Realizar ciclos respiratórios lentos : você deve deitar com abdome para cima, colocar suas mãos sobre a barriga e inspirar lenta e profundamente até que suas mãos subam o máximo possível. Na sequência, contrair seu abdome e iniciar a descida do mesmo já expirando o ar. Repetir este ciclo diversas vezes.
O conhecimento e as evidências acerca dos efeitos positivos das práticas mentais no melhor controle do diabetes e na prevenção de doenças cardiovascularas, são fundamentais para que as pessoas não fiquem dependentes exclusivamente dos medicamentos. Não se pretende, em momento algum, abolir ou condenar o uso de medicamentos, apenas chamar atenção para o papel preventivo e complementar das práticas mentais em patologias crônicas, com altos níveis de morbidade e mortalidade.
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