Existem modismos em todos os setores de nossa vida. Temos a busca pelo corpo perfeito, as dietas milagrosas, o uso desenfreado de anabolizantes e, sobretudo no universo dos mais jovens, o consumo exagerado das bebidas energéticas.
Por trás destes hábitos, ou encontramos desculpas supostamente convincentes ou encontramos a fuga do próprio ser humano, ou seja, a necessidade de ser o que na verdade não é, a necessidade de mostrar ou provar aos outros algo que não lhe faz parte.
O consumo das bebidas energéticas virou uma febre nas baladas, em ambientes corporativos e nas reuniões de família e amigos. Com o propósito de se ganhar mais disposição e energia, as pessoas buscam estas bebidas e muitas vezes misturam seu conteúdo com bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. O resultado acaba sendo uma viagem mental, sem limites, excitabilidade excessiva e comportamentos e falas inadequadas e incompatíveis com a verdadeira postura daquela pessoa.
Na verdade, o que conceitualmente seria uma bebida energética? Trata-se de um grupo de bebidas que contêm cafeína, com ou sem ingredientes adicionais. Tipicamente são bebidas com alto teor de cafeína e os principais adicionais, legalmente autorizados, seriam outros estimulantes como o açúcar, o guaraná, taurina e L-carnitina.
Os defensores destas bebidas, entre eles os próprios fabricantes, advogam que elas melhoram o nível de atenção, o estado de alerta, a concentração e, consequentemente, favorecem o desempenho intelectual e o rendimento físico. Quantos de nós já usamos estas bebidas para não dormir no volante e para passar uma noite em claro estudando para provas !! Contra estes fatos, não há argumentos.
Não podemos negligenciar que realmente estas bebidas produzem alguns efeitos positivos, como os já citados. A questão crucial é que existe um limite muito tênue entre efeitos positivos e o lado obscuro destas bebidas. Somos individualmente diferentes em inúmeras facetas, como no que tange a nossa reatividade orgânica a estas bebidas. Qual a quantidade segura? Qual a marca de bebida energética que melhor se ajusta às nossas funções orgânicas ? Quais os componentes desta bebida energética podem mais causar efeitos colaterais? Não existe e não existirá uma resposta-padrão e, por este motivo, a precaução e a moderação são mandatórias.
O lado obscuro destas bebidas pode ser testemunhado nas emergências médicas. Cada vez mais pessoas procuram este tipo de serviço, após uma ingesta robusta destas bebidas e apresentando sintomas eminemntemente cardiovasculares e neurológicos. Taquicardia, dor no peito, falta de ar se somam a crises de ansiedade, pânico, pensamentos suicidas e delírios. Não bastasse esta desfiguração, estas pessoas podem apresentar sinais de desidratação e alterações no funcionamento dos rins. Em síntese, o lado obscuro pode eventualmente ser o prenúncio de um infarto fulminante, um derrame cerebral e uma atitude mental descontrolada.
Alguns pesquisadores destacam que o consumo excessivo destas bebidas poderia desencadear uma anomalia conhecida como rabdomiólise. Para ficar mais fácil entender o que seria isto, imaginem que, pelo efeito estimulante destas bebidas, os músculos de nosso corpo (e são inúmeros!) começassem a se desfazer literalmente, a se degradar em múltiplos fragmentos capazes de obstruir o fluxo sanguíneo que chega aos nossos rins. Nossos rins param de filtrar o sangue, não produzimos mais urina suficiente para eliminar as toxinas e o excesso de água e, de imediato, coração e pulmão entram em sobrecarga. A morte é uma questão de tempo.
Acerca dos componentes destas bebidas, alguns comentários são fundamentais. Começando pela cafeína, podemos dizer que um consumo diário médio na faixa de 70 a 150 mg poderia ser favorável para melhorar a disposição e energia física. Estas bebidas energéticas podem oferecer valores de cafeína acima de 500 mg por unidade (lata ou garrafa). A taurina é uma substância abundantemente encontrada no coração e nos músculos e desempenha múltiplas funções positivas em nosso corpo. A grande controvérsia é que existem bebidas com 100 mg e com 10g de taurina, facilitando efeitos colaterais. A L-carnitina é encontrada em alimentos de origem animal e auxilia para que nossas células produzam mais energia. O extrato de guaraná pode conter mais cafeína do que o próprio grão de café. Imaginem, portanto, o impacto de uma bebida com todos estes ingredientes em doses elevadas!
Pesquisadores italianos das Universidades de Roma e Pisa realizaram uma revisão sistemática em 2023, abordando o lado obscuro das bebidas energéticas e apresentando o “ranking” dos efeitos colaterais nos principais órgãos do corpo. Vejam abaixo:
Porcentagem de complicações globais por órgãos
Cardiovasculares: 48%
Neurológicas: 26%
Gastrointestinais: 14%
Renais: 8%
Ginecológicas: 2.3 %
Dermatológicas: 2.3%
Porcentagem de complicações cardiovasculares
Arritmias: 41.5%
Parada cardíaca: 15%
Infarto do coração: 12%
Morte: 7%
Porcentagem de complicações neurológicas
Eventos psicóticos(*): 40%
Convulsão: 27%
Distúrbios da visão: 9%
Derrame cerebral: 4,5%
Ansiedade e agitação: 4,5%
(*) alucinações, delírios e pensamentos desorganizados
Embora as bebidas energéticas possam ser convenientes para melhorar o estímulo e a disposição, seus efeitos colaterais podem representar um potencial risco de morte, principalmente quando consumidas de forma exagerada e misturadas com outras bebidas estimulantes, ou mesmo em associação com álcool e drogas ilícitas. Como cada pessoa tem seus limites e sua reatividade a este tipo de bebida, não consumam simplesmente por modismo, por influência de redes sociais ou para ser agradável a outras pessoas . Consulte um médico para lhe orientar qual seria a bebida energética mais propícia para você, qual dose, qual marca e com qual periodicidade. Não abusem da sorte.
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