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Prolapso mitral: o que é e quando se preocupar?



O caso triste do cantor João Carreiro, falecido após uma cirurgia cardiovascular assustou muitas pessoas. E com razão; afinal de contas, era um rapaz jovem de 41 anos com uma alteração cardíaca chamada prolapso de valva mitral, comum a muitas pessoas. Talvez muitos que estejam agora lendo este artigo tenham este diagnóstico ou conheçam algum familiar ou amigo com esta alteração.


A questão primordial é desmistificar o que seria um prolapso de valva cardíaca. Nosso coração possui 4 valvas principais, sendo uma delas a valva mitral, localizada do lado esquerdo do coração. A função principal das valvas cardíacas é controlar a entrada e saída de sangue em nosso coração. A valva mitral normalmente tem um formato semelhante a uma sela de cavalo, composta de dois compartimentos que se aproximam de forma coordenada para que não haja refluxo ou vazamento.


O prolapso de valva mitral é uma variação da anatomia mitral, nasce com a pessoa e muitas vezes passa desapercebido ao longo da vida. As proteínas que constituem a valva mitral apresentam um alinhamento diferente no prolapso e, desta forma, a valva mitral fica com uma certa deformidade. Pode não causar sintomas ou, em alguns casos, as pessoas se queixam de palpitações no coração, como se fosse uma aceleração transitória dos batimentos cardíacos. O prolapso mitral isoladamente não é grave e não precisa de tratamento cirúrgico. No caso das palpitações, pode ser usado algum medicamento para controle da frequência cardíaca.

O prolapso mitral começa a preocupar quando duas situações se associam ao quadro - insuficiência da valva mitral e endocardite bacteriana. No caso da insuficiência, temos um prolapso de valva associado a vazamento ou refluxo, podendo resultar em sobrecarga do coração, edema de pulmão (“água no pulmão“), dor no peito, falta de ar e arritmias cardíacas.


A endocardite seria uma infecção bacteriana, originada nos dentes, pele, pulmão ou intestino, e que atinge a valva mitral com prolapso, causando perfuração ou rotura da valva. Nestas duas situações, a necessidade de uma abordagem cirúrgica aumenta. Tudo vai depender da intensidade da insuficiência da valva, das condições clínicas da pessoa e da boa resposta (ou não) com uso de antibióticos no caso da endocardite. Embora sejam sempre empregados medicamentos para melhorar a função cardíaca, o prolapso mitral associado a uma importante disfunção, seja esta decorrente do refluxo ou efeito destrutivo de bactérias, precisa de tratamento por meio de cirurgia.


O tratamento cirúrgico pode ser dividido em plastia da valva mitral, quando a valva mitral é preservada e reconstruída cirurgicamente, ou troca da valva mitral por uma prótese mitral. Esta decisão é fruto de uma análise minuciosa antes da cirurgia, podendo ser ajustada ao longo do ato cirúrgico. Esta cirurgia requer, em sua grande maioria, a necessidade de parar o coração por um tempo para realizar a cirurgia propriamente dita. Além disto, diante este período de parada do coração, o sangue flui por tubos coordenados por uma máquina. Este cenário complexo é, por um lado, necessário para realizar o procedimento mas, por outro lado, pode gerar uma tempestade inflamatória no corpo.


No caso do cantor João Carreiro, houve certa estabilidade ao final da cirurgia, seguida de grande instabilidade logo nas primeiras horas subsequentes. Esta instabilidade pode ter sido ocasionada por esta tempestade inflamatória ou por uma intensa arritmia cardíaca. São ocorrências que podem acontecer, mesmo com todo o conhecimento atual.

Cada caso de prolapso mitral deve ser individualizado quanto a suas eventuais indicações de cirurgia. O mais importante é estar sendo acompanhado por um médico experiente e, caso seja necessária a cirurgia, enfrentar este desafio para conquistar alívio dos sintomas e maior longevidade. O caso do João Carreiro é triste, ninguém espera pelo desfecho que ele teve, mas não pode ser motivo de descrença em relação a uma cirurgia cardiovascular bem indicada.

Para quem tem prolapso mitral, minha dica é muito objetiva: não tenha pânico, faça check-up periódico e relate sempre ao seu médico seus sintomas.

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