Você já ouviu falar sobre carótidas? Quando você faz seu check-up, existe preocupação em saber qual a condição das carótidas?
Não seria surpresa se a resposta para estas duas questões seja negativa, pois as estatísticas mostram um certo esquecimento em relação a importância das carótidas para nossa saúde.
Mas, afinal, o que são as carótidas e onde estão localizadas? As carótidas são artérias que se originam de uma grande artéria do coração chamada aorta; as carótidas são artérias que comunicam a circulação sanguínea do coração com a circulação sanguínea do cérebro. Só por esta última informação, seria necessário reforçar que o estudo das carótidas, geralmente feito por meio de um ultrassom, deveria fazer parte do seu check-up?
Para apimentar um pouco mais, que tal já ter em mente que o entupimento de carótidas tem relação causal com o derrame cerebral? Como as informações científicas sobre as carótidas ainda carecem de ampla divulgação e maior popularidade, vamos para nossa rodada de perguntas e respostas. Na sequência, deixem seus comentários e dúvidas sobre este tópico tão relevante.
1. Qual a porcentagem de entupimento de carótidas pode ser considerada como crítica?
A literatura médica preconiza que 70% ou mais seria um valor significativo, ou seja, a partir de 70% de entupimento, o risco de um derrame cerebral aumenta. O grande problema é que geralmente não se faz um estudo das carótidas de forma rotineira, ou seja, seria como ter uma bomba prestes a explodir e não saber nem que a bomba existe.
2. Como é o tratamento clínico dos entupimentos de carótidas?
Este tratamento é feito com medicamentos como os antiagregantes plaquetários (aspirina, clopidogrel) e estatinas. Os antigregantes visam melhorar o fluxo sanguíneo e reduzir a formação de coágulos. As estatinas, por sua vez, são úteis no controle das taxas de colesterol e reduzem a progressão de placas de gordura dentro das carótidas.
3. Como é o tratamento cirúrgico dos entupimentos das carótidas?
Existem duas possibilidades - o tratamento cirúrgico aberto , chamado endarterectomia, no qual o cirurgião abre a artéria e remove a placa de gordura e o tratamento percutâneo (pela virilha, sem abertura da pele), no qual um “stent” (malha metálica) é inserido dentro da artéria para dilatar o local obstruído.
4. Quais são os sintomas de um entupimento de carótida?
A pessoa pode ter um entupimento significativo e não ter sintomas. Quando há sintomas associados ao entupimento, podemos destacar dor de cabeça, confusão mental, alterações visuais e perda de força de um lado do corpo (geralmente o lado oposto a carótida entupida).
5. Em caso de entupimento carotídeo de 70% ou mais, deve-se realizar o tratamento cirúrgico aberto ou percutâneo?
Esta é, sem dúvida, a questão mais difícil, pois existem algumas tendências apontadas pela literatura mas não são regras absolutas. A primeira etapa nesta tomada de decisão é avaliar a existência ou não de sintomas, pois pode-se manter exclusivamente um tratamento medicamentoso otimizado em alguns casos. No entanto, como um entupimento significativo aumenta o risco de um derrame cerebral ao longo de 5 anos, existe uma outra linha de conduta que considera como razoável o tratamento cirúrgico antes de possíveis complicações maiores.
Quanto a técnica, a opção pela cirurgia aberta ou tratamento percutâneo será fruto de uma análise ampla, levando em conta aspectos anatômicos, faixa etária, condições cardíacas da pessoa e experiência da equipe médica.
A relevância do entupimento de carótidas não se resume a estas cinco questões acima. Como cardiologista, sinto-me na obrigação de transmitir mais 3 recomendações essenciais: não se deve fazer uma cirugia cardíaca sem o estudo prévio de carótidas, devemos ser muito mais vigilantes quando houver entupimento das duas carótidas e pessoas com entupimento de carótidas precisam pesquisar possíveis entupimentos simultâneos de artérias do coração.
Enfim, creio que não faltam motivos para declarar que nossas carótidas não podem continuar subestimadas. Ninguém, em sã consciência, pretende saborear as consequências de um derrame cerebral; logo, vamos incluir o estudo das carótidas, por meio de ultrassom, em nosso check-up. Ter maior vigilância pelas carótidas é um ato de prudência, especialmente quando se fala em prevenção de eventos cardiovasculares e a busca constante por uma longevidade saudável.
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